AS FESTAS DE FIM DE ANO
Festas de fim de ano.
Tempo de alegria, de amor, de união , de solidariedade, de confraternização.
Tempo de muita organização que vai desde decidir o local do encontro, do menu do regabofe , a cor da lingerie , dos enfeites da casa. Como é lindo tudo isso, quanto amor se vê nos 30 segundos do comercial na tv , que se repete em todos os lares do planetinha azul ! SÓ QUE NÃO.
Eu tinha uns doze anos de idade quando acompanhei minha mãe ao Mercado Municipal da Lapa, aqui em São Paulo. O regabofe seria, como sempre, aqui em nossa casa. Família grande exigia um peru bem pesado, tender, bacalhau ,ingredientes para as saladas, temperos , pensar nas sobremesas. Tudo muito.Tudo exagerado... E nesse clima percorríamos os corredores lotados, ao som que misturava músicas natalinas cantadas por Bing Crosby e Frank Sinatra com as vozes dos vendedores
anunciando as melhores ofertas. Nossas sacolas cheias e pesadas, prontas para mais. Minha mãe se resolveu por uma banca de aves, finalmente. Estava sendo atendida, decidindo quantos perus de quantos quilos levar quando um grupo formado por umas 5 mulheres e muitas crianças me chamou a atenção. Eram mulheres de poucos recursos financeiros, como se podia notas pelas roupas que vestiam. Todas muito alegres , risonhas, falantes. Ao serem atendidas, pediram quilos de pés e pescoços de galinha, infinitamente mais baratos do que os perus que minha mãe comprava. Barulhentas, juntaram seus dinheiros, pagaram e levaram os pescoços e pés que naquele momento me deram golpes de “voadoras” no estômago. À partir de então, os jingle bells silenciaram, como as vozes dos vendedores e os comerciais modelos se dissiparam em minha mente. Essa cena causou em mim muita reflexão, apesar dos meus 12 anos de vida. Depois do golpe duro da constatação de que papai noel não existia, agora a constatação de que não somos todos iguais, que não vivemos as mesmas oportunidades na vida, que a felicidade é relativa e não tem preço. Não, não me chamem de estraga prazeres. Não, não me chamem de depressiva. Não me julguem, por gentileza. Eu, pudesse cairia em sono profundo no primeiro jingle bell ouvido e acordaria depois do desfile das campeãs.Não gosto dessas festas, não gosto do compra-compra, do tiozinho que bebe umas a mais e fala mais alto que o preço do arroz, da tiazinha fofoqueira perguntando pra sobrinha-neta e seu marido quando vão engravidar ( não façam isso , por favor !), das pisada nos calos desconfortáveis nos sapatos novos ao redor da mesa , da disputa velada da farofa feita pelas avós, do sofá lotado de seres adormecidos , da brincadeira horrorosa de “inimigo secreto”. E cá estamos, nesse dezembro de 2020, ano que entrou para a história da humanidade, prontos para mais uma edição de Boas Festas, que apesar do meu relato, espero que seja lindo e feliz para todos. Um Natal “Fique Em Casa” doce e reflexivo para todos e que 2021 venha vacinado e positivamente transformador.