SETE LOOKS PARA SE DESTACAR
Há de se considerar que, uma roupa não diz totalmente sobre você, porém, ela ajuda sim, a contar sobre quem você é seus hábitos, meio em que vive, assim como o que você quer dizer ao mundo, com aquilo que está vestindo.
“Ah! mas é só um jeans e uma camiseta!” - diria você, lendo esse texto. - “o que há de errado ou de tão complexo em vestir uma roupa?”.
Para contextualizar, cito aqui um trecho, do filme O diabo veste Prada em que a editora chefe da fictícia revista Runway, Miranda Priestly, interpretada por Meryl Streep, se via às voltas com vários looks em uma reunião com sua equipe, quando foi interrompida pela assistente, vivida pela atriz Annie Hathaway, que soltou um risinho debochado de canto de boca, enquanto Miranda segurava concentrada, dois cintos azuis, teoricamente iguais. Intrigada, Miranda questionou o porquê do riso, sendo respondida em seguida, pela personagem de Annie que, em sua opinião, as duas peças eram basicamente iguais e não entendia o motivo da duvida.
Traçando, de forma resumida, para a funcionaria, uma rápida linha do tempo, ela explicou, de forma irônica que, por mais que não se importasse com a roupa que estava usando naquele momento, um suéter azul turquesa, de aspecto simplório, ela estava usando uma peça escolhida indiretamente pelas pessoas que ela havia acabado de caçoar, entretidas naquela sala, com qual cinto azul combinar um vestido de bailarina coral alaranjado. O que quero dizer é que, por mais que você ache que não liga que não segue uma regra, ou um padrão, no fim, vai usar alguma peça que está na moda ou que tenha visto em alguma pagina do insta, facebook, sendo usada por um artista predileto ou como uma sugestão do pinterest.
Não importa, cedo ou tarde, você vai usar uma pulseirinha que seja que tenha visto em algum post ou foto do Google.
Através das épocas, o modo de se vestir sempre foi muito mais do que o simples ato de se cobrir, se proteger das intempéries ou apenas ostentar; se vestir sempre representou alguma coisa, seja um desejo coletivo, ou a vontade de se expressar. Nunca foi só um pedaço de tecido costurado aleatoriamente. A roupa é a linguagem de um tempo. Um retrato tecido do que aconteceu em um momento da historia.
Como se fosse um print daquele look que você tira da internet, com seu celular, para tentar, quem sabe futuramente, montar o seu próprio.
Luiz XV, o rei sol com seus saltos altos e forma luxuosa de se vestir, assim como Maria Antonieta com seus looks extravagantes e suas perucas imensas, cada qual em seu momento respectivo, souberam como se destacar muito bem em suas devidas épocas, contribuindo de forma altamente relevante para o nosso modo de vestir hoje em dia.
Nos anos 20, Chanel propôs a liberdade da mulher, com o uso de calças, o fim do uso do espartilho e o uso da bolsa a tiracolo, para que a mulher pudesse se locomover com mais conforto e deixasse para trás o suplício de ter que ficar presa e desconfortável, durante o dia inteiro em um vestido que mais parecia uma camisa de força; Nos anos 50, os homens queriam se vestir como James Dean, de jeans surrado, camiseta branca, jaqueta de couro e óculos escuros; Nos anos 60, as roupas refletiam um desejo de olhar para o futuro, um romantismo até certo ponto pragmático, pois se imaginava que, nos anos 2000 estaríamos em carros voadores, como nos Jetsons; Nos anos 70, a liberdade sexual, as calças boca de sino, as musicas de protesto e o flower Power ditaram a forma de se destacar em meio à multidão com formas livres e estampas florais; nos anos 80 o culto ao corpo, os tecidos elásticos e as cores fortes e fluorescentes, além do declínio da discoteca traziam looks escandalosos e exagerados que, ora desenhavam o corpo, ora tinham muito volumes concentrados em algumas áreas; Nos anos 90, o minimalismo e as cores inteligentes reinaram nas passarelas, trazendo um mood clean, como se tentassem negar, involuntariamente, o derrame de cores da década anterior. .
No final dos anos 90, com a aproximação dos anos 2000, tivemos o crescimento da cultura clubber que, mesclada ao minimalismo, nos trouxe looks com mood cyber futurista, tecidos reluzentes e com toque plástico, como usado no filme Matrix.
Seja no Japão, com as Harajuku girls, e seus looks extremamente diferentes e fashionistas; com as mulheres girafa da antiga Birmânia com seus vertiginosos aros dourados empilhados no pescoço; na tribo Masai, na África, com seus looks estampados e absolutamente coloridos ou as estampas dos Ndebele, também da África, todo mundo sempre busca se destacar com seus looks.
A roupa sempre se levantou em um movimento de resistência invisível ao tempo, que soberano, ignorou totalmente o fato de que, querendo ou não, todos nós evoluímos, todos nós nos movimentamos.
Ela, a roupa, sendo usada como um instrumento direto da moda, tenta congelar a qualquer custo aquele momento no tempo, seja com um comprimento, um discurso, um volume, uma nova modelagem ou uma nova estampa.
Mas, e hoje em dia? Com a velocidade e o bombardeio excessivo de informação, Como fazer para se destacar no meio da multidão? Como não parecer que está uniformizada ou desatualizada? Como resistir às mudanças, sem ter a sensação de estar obsoleta? Como seguir o fluxo constante de mudanças sem parecer uma vítima frívola das tendências? Vivemos em um mundo, atualmente extremamente egoísta, com um discurso incoerente que pede que, sejamos mais unidos, empáticos e abertos ao outro, estando mais ao lado das pessoas que amamos, mas que, por outro lado, dentro do mesmo discurso que te pede que fique junto dos seus, acaba nos roubando cada vez mais atenção da realidade, com apps que tomam cada dia mais nosso tempo, nos tornando seres individuais e frios, sendo assim, nos tirando cada vez mais do convívio que tanto prega.
E como a moda luta contra o tempo eternamente, ainda sim, sendo sua refém conivente, como se vivesse em uma espécie de síndrome de Estocolmo imaginária, é preciso hoje ter discernimento para extrair o que se precisa dela, sem se render às suas frivolidades, afinal, cíclica e volúvel como é, corre o risco de você nem conseguir usar a Parka verde militar do inverno, que você comprou porque combinava com aquele seu tênis esportivo, já que, na próxima estação o que vai ser moda será a manga bufante.
Entendeu que louco que é?
A moda perdeu um pouco da assinatura, da exclusividade, com o boom dos fast Fashion, que, diga-se de passagem, estão entrando em um moroso declínio.
Com essa dita velocidade de informação, as décadas se condensaram de uma forma muito brusca e as épocas se tornaram uma coisa só.
Hoje você pode sair com um vestido vitoriano branco, com um jeans rasgado por baixo, uma sandália floral ou um coturno pesado; ou com um agasalho de moletom fúcsia, saião florido e tênis daddy shoes e ainda sim estará totalmente conectado ao espírito de nossa época, que até pode soar caótica, mas, nervosa e apressada, se encaixa perfeitamente naquilo que os jovens de hoje pedem.
Mais uma vez, a moda é um fruto do seu tempo e o tempo funciona como um braço de Shiva, que constrói, destrói, desconstrói, reconstrói a moda, a seu bel prazer, visando, não o fim, mas a renovação de tudo o que ficou velho. E o velho aqui, subentende-se como uma peça que foi lançada na semana passada, alçada ao status de icônica e que hoje, já está fora de moda.
É uma relação de comensalismo eterno, se a gente for parar para pensar.
Mas calma! Você não está perdida! Nós estamos aqui para te ajudar e vamos te dar sete dicas para não ficar para trás, não fazer feio e ainda por cima, se destacar nesse mundo e nessa época de looks incríveis de redes sociais famintas e blogueiras ávidas por likes.
Cores fortes/looks monocromáticos:
Se você é alguém extrovertido, e que gosta muito de cor e segura a onda, assuma a combinação de cores primarias e secundarias no seu look. Laranja com azul Klein, amarelo com roxo, rosa com turquesa, enfim, ou opte por apenas uma cor forte que pontue todo o look.
Se for pelo caminho da combinação de cores fortes, opte por modelagens mais "Pé no chão" e vida real para que a cor seja o destaque do look.
Se aderir ao total One color look, traga acessórios de outra cor ou uma maxi biju da mesma cor usada para modernizar o visual sem derrapar na overdose de cores.
Alfaiataria divertida:
Curte terninhos estampados, com cores descoladas ou padronagens diferentes?
As estampas desencaretam a sisudez de um terninho bem cortado e as cores descoladas, como as candy colors, conferem um ar have fun ao look. Troque a camisa clássica por uma camiseta e, ao invés de uma calça, opte por um shortinho de alfaiataria com a mesma estampa ou cor do terninho. Tênis e acessórios lúdicos dão um ar divertido para você que não se leva a sério.
Crash de estampas:
É necessário coragem para contrapor duas estampas diferentes em um look.
Para não haver uma briga de foice, combine looks com estampas que se harmonizem entre si. Use o bom senso.
Florais combinam com listras e polka dots, o famoso Poá; estampas de bicho, as animal prints, combinam com xadrez; Camuflados combinam com étnicos.
Mas não precisa se prender a um padrão. Escolha as suas próprias estampas, criem camadas que combinem e conversem entre si, exemplo: a jaqueta ou casaco conversando com o tênis, a calça combinando com o top e assim vai. Evite acessórios, já que as estrelas do look são justamente a sobreposição de estampas. A menos que você queira dançar em uma festa caipira, evite o excesso.
Como dizia Chanel, O menos é mais.
Romântico moderno:
Looks para a menina romântica, que curte looks delicados, mas que não quer passar uma imagem frágil indicamos mesclar o pesado e delicado, contrapondo dois universos dentro de um mesmo look.
Para não parecer uma mocinha de novela mexicana, sempre com aquele ar sofrido, combine vestidos de tecido delicado e barrados rendados com leggings de couro, calcas resinadas com blusas embabadadas, camisetões de rock extralarge com saias de tule ou renda de comprimentos longos, com tênis daddy shoes ou um bom e velho coturno, florais miúdos com fundo claro e um cintão de fivela pesada para compor esse new romântico também funcionam.
Você se destacará sem perder a ternura jamás.
Look total print:
Uma variação do crash de estampas, só que, ao invés de usar duas ou mais estampas, você usa somente uma estampa que permeia o look todo. Ideal para quem tem confiança de sobra e personalidade forte, essa categoria traz estampas barrocas, étnicas ou abstratas que conferem aquele ar meio Pimp e é um tipo de estilo que fala por si só. Se você quer chegar a algum rolê e estiver tudo bem para você virar O assunto da rodinha, essa é uma ótima pedida. Mas lembrando que, de todos, esse é um estilo que exige muito de quem o usa.
Se você for do tipo tímida e tá procurando algo pra virar a chave, não opte por esse look. O ideal é que você se sinta confortável e não, envergonhada e sendo motivo de chacota nos grupos de Whatsapp.
Let´s get Physical:
Inspirada pelo esporte, essa pegada utilitária e pela funcionalidade, se você curte looks zero frescura, com tecidos inteligentes e que otimiza o tempo e que vai da academia para o trampo e para o happy hour depois.
Adepta dos neons, e de roupas repletas de recortes. Onde mil cores se misturam tecidos permitem o corpo respirar e cortes que desenham e que se moldam as formas, deixando uma sensação de conexão com o ambiente.
Para um look que se destaque em meio à multidão, combine uma parka esportiva, de cor fluorescente, com um look minimal, cinza mescla, azul marinho ou branco ou uma calça de moletom com um corte diferentão, com um top ou camiseta, um bom tênis coloridão e caia no mundo.
Retro hypster:
É aquele visual que parece saído diretamente de um filme dos anos 80. É composto basicamente por sobreposições, cores sóbrias/apagadas e peças confortáveis. Looks resgatados de brechós e dos armários dos avós, com cores e padronagens datadas, mesclados a peças e acessórios atuais, trazem uma nova linguagem, ressignificando as peças, subvertendo o tempo e brincando com as épocas. Uma vez nas mãos de alguém que saiba como manipular essas peças, elas ganham um status atemporal. Se destacar aqui se torna um fácil exercício, já que brincar com a ordem de como usar as peças acaba virando uma espécie de camuflagem, incentivando a criação de um personagem, de uma fantasia social, como uma roupa de super herói, onde você não necessariamente precisa ser aquela pessoa bem resolvida, só precisa segurar aquele visual pelo tempo ao qual você se propor. Aqui não se faz necessário ter autoconfiança, tampouco personalidade forte para usar.
É só ter bom humor e sangue frio o suficiente para segurar essa vibe.
Não é necessário ficar preso a um estilo ou uma só dica. Se aproprie de dois ou mais estilos, equilibrando o dialogo entre eles para que não haja conflito ou resulte em um visual poluído. Como dito, vivemos um momento democrático onde você não precisa ser uma coisa só, ter um estilo só.
O mais importante é você se sentir confortável e ciente do quanto você pode ser maior e diferente do que foi no dia anterior, sem perder sua personalidade, até por que a mensagem principal que se pode tirar disso tudo é de que, o mundo muda e você agora, nesse momento que está lendo esse artigo, não é o mesmo de dez minutos atrás.
Lembre-se sempre: mude sempre a roupa, mas mantenha o discurso.