TENDÊNCIAS VERÃO 21

Quando falamos de tendências, sempre se incorre no mesmo erro, pois se acha que é uma ditadura acerca do que realmente devemos usar durante o período de seis meses de nossas vidas.

Mas foi assim, de fato, até o início dos anos 2000.

As passarelas de moda ditavam o que iriamos usar, como se aquilo fosse uma lei a ser obedecida, a regra, pelas pessoas do mundo inteiro.

Com o advento da velocidade da informação e do clamor invisível e praticamente natural das pessoas por individualidade e liberdade, aos poucos e de forma orgânica, isso foi caindo.

Aqui no Brasil por exemplo, as novelas,nosso principal produto de entretenimento de 2000 pra trás, consumidas pela massa, é que ditavam certas tendências. 

A meia de lurex com sandália, de Dancing Days, a blusa ciganinha com saia e tamanco usada pela Babalu, personagem de Letícia Spiller em Quatro por Quatro, a calça corsário com Body usada pela protagonista de Pecado Capital, a meia ⅞  usada por Andrea Beltrão em A viagem, os acessórios dourados e extravagantes usados pela Jade de Giovana Antonelli em O Clone e tantas outras enfim, caíram no gosto da massa e eram consumidas a exaustão durante o período em que a novela estivesse sendo exibida na TV.

Durante cada década uma tendência forte era levantada, como um memorial que representaria aquela época.

Hoje as passarelas vivem de requentar essas tendências em busca de uma nova invenção da roda, na tentativa desesperada de lutar contra o dragao do fast fashion, que absorve instantaneamente a tendência da rua e, em tempo recorde joga nas araras o desejo das jovens daquela semana.

Sabe aquela velha máxima " A maior banda de todos os tempos da última semana"?

Pois é, isso hoje em dia acontece em várias esferas de consumo.

Exemplo: um artista lança um single,  então seus fãs vão ao Twitter e dizem, "é um hino"( forma como se referem a música do artista significando que a música é incrível e única.) Dependendo do desempenho ela "Charteia"(ocupa um bom lugar nos rankings) e na outra semana é engolida por um outro hino.

Pronto.

Já esqueceram o "hino". Estão curtindo um outro hino e exaltando outro artista, que na outra semana estará esquecido.

É tudo muito rápido. E chega a ser pretensioso, a forma como a moda ainda se trata como algo relevante a ponto de achar que pode durar e se eternizar nos dias de hoje. 

Um estilista pensa uma coleção de acordo com o que está rolando a sua volta. Cores, formas, volumes, comprimentos, tudo é pensado de maneira a ser digerido de forma coesa pelo público. 

Porém, hoje em dia é muito difícil achar que, se você reeditar uma peça iconica, refazer o tailleur,  subir o comprimento de um vestido romântico ou cruzar estampas, vai prender um cliente a sua marca pagando caro por isso.

Não, quando existe uma loja de departamentos, que vai pegar uma estampa identica, com um tecido similar, e se valendo de mao de obra barata e vai jogar nas araras dela, em uma semana o que o estilista só vai lançar daqui a seis meses. 

Quem dita a moda hoje é o Instagram com suas blogueiras vestidas com seus looks emprestados e seus recebidos do mês.

E eu não as culpo.  Alguém precisa ser o cordeiro que se imola em sacrifício nessa história de lançar tendências que não duram uma noite as vezes.

Porém os estilistas ainda tentam, a duras penas manter a chama acesa e lançam, de seis em seis as coleções hoje já chamadas de coleções de verão e coleção de inverno, para facilitar a digestão de informações e tentar dizer que esta sim se adaptando. 

Uma tendência é identifica de acordo com o número de vezes que ela começa a ser encontrada nas coleções lançadas pelas marcas.

Por isso se existem as semanas de moda.

Antigamente era muito comum um estilista lançar sua coleção hoje e outro, só daqui a três meses, um em uma semana e o outro na outra.

Para facilitar a leitura e o entendimento do público em geral,  foi organizada uma semana onde os estilistas se reuniriam e lançariam suas  coleções. 

E justamente nessas semanas de moda é que as tendências para a estação vão sendo mapeadas e identificadas pela imprensa especializada.

Por exemplo: se uma determinada cor foi encontrada em mais de uma passarela, já se diz que ela será a cor da estação.

Durante o período de pandemia, muito se especulou qual seria o papel da moda, se continuariam com o excesso de coleções,  se teriam os desfiles durante esse momento e eis que então, surge o formato digital de desfiles e lançamentos de coleção, um advento e uma proposta interessante e bastante inovadora.

O que foi pensado para manter os lançamentos já promete ser o futuro( que é logo ali.) Das semanas de moda. Durante o período antes da segunda onda do vírus na Europa,os estilistas,contrariando a questão de que a saida do isolamento naquele momento era algo ainda mui delicado, resolveram lançar suas coleções, ora digitais, ora presenciais.

Para o lançamento das coleções do verão 21 ao longo do globo, o que se notou foi que, temendo problemáticas mercadologicas, muitas marcas optaram pelo safe e se apoiaram em clássicos e signos já pré estabelecidos em suas respectivas marcas.

Sabe a história do "não se mexe em time que tá ganhando"? Pois é, aqui essa máxima super se aplicou.

As marcas não se arriscaram em loucuras e nem peças que não tivessem utilidade, as chamadas peças de passarela. 

Quem se arriscou em sair da caixinha, optou por utilizar tecidos antigos como Rick Owens e Dolce&Gabanna, que tentando absorver o discurso do não consumismo, se apoiaram no reuso de matérias primas de seu próprio acervo e estoques para elaborar coleções bem fortes.

Alias esse discurso incoerente que a moda propõe de tentar não ser consumista, mas em contrapartida não diminuindo o ritmo dos lançamentos é um assunto que eu quero abordar em uma outra matéria.

Bom,mas vamos ao que interessa, as tendências do verão 21 identificadas nas passarelas ao redor do mundo.

A combinação de cores fortes apareceu em praticamente todas as passarelas.Amarelos casados a rosas choque,aliados a azuis Royal, enfim. Use com moderação.

Cores fortíssimas e corajosissimas surgem em looks inteiros. Verdões, azulões, tudo é superlativo. Use com acessórios neutros ou sem nenhum acessório. 

A tendência que vira e mexe volta, traz cores alegres, formas mais confortáveis,recortes estratégicos e tecidos inteligentes.

A Miu Miu foi o grande dessa tendencia, com seu desfile cirurgicamente bem feito.

A Saia desce o comprimento até um pouco abaixo do joelho ensaiando um comprimento mini,mas sem querer se comprometer muito e se abre em evasês e godês ultra femininos. Babados e volumes nas saias dos vestidos, com mangas bufantes sugerem um momento escapista. Quebre a doçura com tênis e botas pesadas ou tire do contexto.

Fica bem interessante.

Algumas marcas trouxeram o brilho dos laminados e bordados para uma proposta diurna e tirada do contexto festa.

Para o dia, nada de chegar ninguém,  opte pelos foscos.

o contraste de estampas foi algo muito visto nas passarelas.

Se você não se sentir segura,  não cruze xadrez com floral, para não parecer que esta indo a uma quermesse de festa junina.

Utilize com sabedoria e arrase.

Comece sempre com o básico até se sentir segura o bastante para cruzar camadas de estampa sob o mesmo look.

Foi utilizado a exaustão nessa temporada. Looks completos, em camadas e texturas em uma mesma proposta trouxeram elegância inteligente a algumas coleções.

Thom Browne soube como ninguem se apropriar dessa tendência.

Tendencia migrada de outra temporada, ainda foi vista em algumas passarelas. Ótimas para combinar com cores e estampas  mais fortes. 

A modelagem vem mais folgada nessa temporada, para propor conforto e muita liberdade nos movimentos.

Há uma vontade grande de agenerizar as peças, o que é algo muito bem vindo.

Combine largos com peças mais justas para encontrar um equilíbrio nas formas.

Para encerrar o mapa de tendências, vimos muitas estampas diferentes nessa temporada.  Algumas se apoiando nos cartoons, outras no abstrato,  e outras em novas tentativas de reavivar velhos clássicos. 

Aqui foi o momento onde algumas marcas tentaram dar uma pirada, e reinventar a roda.

Algumas não conseguiram.

Estampa de verão precisa ser alegre, com motivos felizes e cores iluminadas.

Não da pra usar um vestidão vaporoso de verão com uma estampa triste e de fundo escuro, né Chanel?

Bem pessoal, por hora é só, mas eu volto…

Anotem as tendências,mas pesquisem mais na Internet, usem o que lhes for melhor e mais confortável, criem sua própria tendência, sejam estilistas do seu próprio guarda roupas,ok?

Um beijo.