FESTA DO INTERIOR - 9 MESES DE PANDEMIA UMA GESTÃO PARA UM NOVO TEMPO
Uma gestação. Não pelo verso, mas pelo reverso. Uma gestação às avessas. Fomos nós os paridos por 2020. De repente, o que já não tínhamos controle, descontrolou-se. O que não era amor, desamou-se. O que não era amigo, desamigou-se. Tudo o que não era, revelou-se. E esse é o grande mérito para as próximas gestações, primogênitos que somos desse histórico momento planetário. Já chega de dizer que aprendemos com 2020. Somos ainda bebês, aprendizes. Nós, os paridos, sem passado, inventamos um novo normal. Já não era normal, como criamos o novo? Como quiséssemos correr , mas com perninhas de recém-chegados. Enquanto parte dos paridos levantavam as máscaras, em outros ela caía descaradamente; mérito de 2020, reconheçamos também. Nascemos prematuros nos braços de 2020. Não esperávamos sermos filhos, todos ao mesmo tempo. Como bebês que chegávamos ao mundo, sem o olhar materno. Nesses 9 meses, teve gente que vingou, cresceu. Gente que apareceu. E teve gente que caiu, repetiu lição de tudo aquilo que normalizou, tirando da pele a própria essência. Livrai-nos do mal. E para isso também reconheçamos 2020. Como gêmeos ultramúltiplos de gestação única, nós os paridos - não nos reconhecemos como semelhantes, bebês que somos. Nem mesmo reconhecemos a natureza dos genitores, nossa Terra. Pensamos apenas em um plexo, sendo o todo, complexo. Na corrida pela sobrevivência, fomos rasos na categoria. Pensamos em 50 m e a prova é ultra, ultramaratona. Um 2020 a cada dia, com pais e país ausentes a pairar pelas crias. De um dia para o outro , o mundo muda sem as mudanças. Como se o planeta seguisse dada órbita sem se importar muito com as recém-chegadas criaturinhas. Filhos órfãos: de respeito, de empatia e solidariedade. O céu não é risonho e límpido. O poder deitado eternamente em berço esplêndido não sabe o que é dar colo a este grande corpo de filhos diante de uma mãe nada gentil e que relega os filhos à própria sorte e que adora a morte. 9 meses é tempo de gerar vidas, mas aí vem 2020 e naturaliza toda essa perversidade. A falta de ética é replicada e mesmo bebês somos tocados, porque contra ela não há máscara que nos proteja. Eu não sei o tempo que vai levar para darmos os próximos passos, falarmos a mesma língua. Será no laço do abraço de quem escuta um pássaro e aprende a voar depois de engatinhar é que alcançaremos novamente o eixo desta caminhada. O invisível ficou visível, e isso vale para o bem e para o mal por esse chão que pisamos. O planeta tem uma frequência e nós também. Que a gente consiga se alinhar , cada um com seu eixo para que o todo apareça e possamos acompanhar , pq o planeta está seguindo, está vivo. Que toda essa nossa impotência seja transformada em força de caminhada para este alinhamento. Livrai-nos do mal: do visível e do invisível, bebês que somos soltos por essa atmosfera, ainda com ar bastante rarefeito. Que as festas deste final de ano sejam festas do interior: repletas de amor e bebês que somos, possamos crescer saudáveis para uma Nova Era cheia de esperança que se aproxima. Boas Festas!